10/08/2019


As (a)normalidades


A mente humana habitua-se, e, deixa de dar valor, rapidamente, ao que tanto valorizou.

Passaram, rápidas, várias perdizes.
Parei o carro.
Fiquei a contemplar, maravilhada, tão belo cenário.
Voltou a acontecer, maravilhada voltei a ficar.

Foi acontecendo, uma outra e outra vez.

O cenário, sempre o mesmo, passou de extraordinário a normal.
O que tanto me encantou, repetição, deixou de encantar.

A beleza é a mesma quer seja a primeira ou a última vez.
O que nos leva ao desencantamento?



29/07/2019



Memória sem memórias

Convivo, diariamente, de perto e de longe, com a Memória sem memórias.
Surpreende-me, sempre, o que se esquece e o que se recorda.

Numa sala, envidraçada, com várias janelas e algumas portas, recordam, sempre, todos, qual é a porta da saída, aquela que conduz à "Liberdade".

Nela se encostam, à vez, à espera da Oportunidade.

Quem somos?
No que nos tornaremos?

Quem sabe? Quem quer?

Ninguém. 
Que bom é viver a Vida sem pensar na porta de saída, sempre...

24/07/2019



Momentos



Numa bela tarde,
a caminho de casa, fui surpreendida, bem, por dois jovens de colete verde alface.

Paravam o trânsito, por breves instantes, conforme informavam.
Assustada, tranquei o carro.

Esperei segundos. 
Em breves instantes, conforme tinham dito,
passaram velozes centenas de ovelhas de vários tons e tamanhos.
O pastor assobiava orientando os cães.

Atravessaram a estrada, assustadas, num susto, sentimento, reconhecido e habitual. 
No outro lado, no pasto seco e crocante, soltaram-se numa sonora e deslumbrante liberdade.

Emocionei-me. 
Quando me mandaram avançar, apetecia-me ficar.

Pelo caminho, fui digerindo a imagem retida.
Por vezes, sinto-me ovelha, presa, sem vedação, sem pastor, sem cão, com momentos de deslumbrante liberdade.