01/02/2016


João e as calças rasgadas



















Era tarde de festa.
Isabelinha festejava o seu décimo aniversário.
Crianças e adultos partilhavam brincadeiras, comes e bebes, jogos e cantorias.
Casa animada, bem animada. 
Adultos ocupados.
João, de três anos, feitos no mês anterior, sentia-se pequenote.
Levantava a cabeça tentando não perder nada, nem ninguém, no meio de tanta animação.
As coisas e as pessoas, vistas de baixo para cima, ficavam estranhas.
Gostava de brincar, com as primas e os amigos, quando estavam todos sentados no sofá ou no tapete da sala.
Falava mas ninguém o ouvia. Apetecia-lhe gritar. Queria fazer parte da festa.
A campainha tocou. 
Puxou pela saia da tia para chamar a sua atenção. A tia passou-lhe a mão pela cabeça, sorriu mas não foi abrir a porta.
A campainha voltou a tocar. Ninguém ouviu.
João sabia que não devia abrir a porta a estranhos. Talvez não fossem estranhos, se vinham à festa da prima...
Dirigiu-se à porta de entrada. Colocou-se em bicos de pés, rodou a maçaneta e a porta abriu-se.
Era uma rapariga ou talvez uma menina. Ficou confuso com o esforço de ter estado em bicos de pés.
Estava pintada e tinha o cabelo preso.
- Olá.
- Olá. Vens à festa? - perguntou o menino.
- Sim. Posso entrar? - perguntou a menina.
O menino olhou para a menina, da cabeça aos pés, levou as mãos à cabeça e exclamou:
- O que te aconteceu?
- Porquê? - perguntou a menina.
- Tens a calças todas rasgadas. - respondeu João demonstrando a sua preocupação.
A menina riu.
- Não me aconteceu nada. Comprei as calças já assim.
A menina dirigiu-se para a sala.
João ficou a olhar e pensou que afinal não tinha tido sorte.
A menina não queria brincar com ele e ainda por cima usava calças rasgadas. 
A mãe não ia gostar que ele brincasse com ela, ficava zangada com ele quando rasgava a roupa...