19/07/2016


Barquinhos de melancia


Coma a melancia, guarde a casca e deixe secar.














Num domingo, de Verão, depois do almoço, a avó Mariana colocou, sobre a mesa, uma melancia enorme.
O avó João encarregou-se de cortá-la, em grandes talhadas.
Retirou-lhes algumas sementes.

As crianças deliciadas, com o gosto fresco e doce, iam comentando:
- Ah que boa!
- Ah que docinha!
- Ah que fresquinha!

O avô, com ar sonhador, exclamou:
- Lembro-me das corridas de barquinhos, feitos com cascas de melancia, que eu fazia com os meus amigos quando chovia...
- Oh avô, chovia no Verão? - perguntou Sofia muito espevitada.
- Não. Guardavam-se as cascas para fazer barquinhos, no Inverno. Colocava-mos um pau, uma folha de nespereira a fazer de vela, e, quando as valetas levavam água seguia-mos os barquinhos para ver qual chegava mais depressa, ao largo da igreja.

- E os meninos não ficavam molhados com a água da chuva? - perguntou a Clarinha com ar preocupado.
- Sim. Depois a nossa diversão acabava com a minha mãe a dar-me uma grande sova. Bons tempos...
- Gostavas de levar sovas? - perguntou o Pedro, com ar de espanto.
- Não, mas era feliz com pouca coisa. Os barquinhos de melancia eram verdadeiras obras de arte.
- Fazes barquinhos para nós os três? - perguntou Sofia.

- Sim, claro. - respondeu o avô com pouco entusiasmo.
Quando se levantaram da mesa já ninguém se lembrava dos barquinhos de melancia.
O avô João guardou quatro cascas.
No Inverno, deviam estar boas para fazer barquinhos.
Tinha que treinar para não ficar mal na primeira competição.

Prometeu, a si próprio, não se esquecer.
Os netos já não se lembravam.
Cada um, sentado na sua cadeira, agarrado ao tablet, isolados do mundo.

E, um dia tão maravilhoso, no mundo, lá fora...