23/09/2018


Nunca sabemos, verdadeiramente, o que os outros pensam sobre nós.


Nem todos ousam libertar o pensamento
Nem todos pensam.

Podemos captar sinais.

No outro dia, recebi uma oferta, um livro.

A Senhora, com letra maiúscula, de noventa e seis anos, disse-me:
- Filha, ofereceram-me este livro. Li uma vez mas não quero ler mais vez nenhuma. Podes ficar com ele, acho que vais gostar...

Depois, baixinho, disse:
- É do Mário Zambujal, tem uma linguagem um pouco vernácula, para meu gosto.

Ainda respondi:
- Sabe que ele escreve mesmo assim, já o conhece.

- Claro... podes ficar com o livro.

Acompanhei-a a casa.
De regresso, fiquei pensando:
- Que sinais lhe terei dado para ela pensar que eu gosto de "linguagem vernácula".

Quem me conhece, mal ou bem, sabe que sou "rara" e que gosto de linguagem subliminar.

Tentando entender, li algumas páginas.
Decididamente, de verdade, não faz o meu género.

Desta vez, a D. Helena confundiu-se. Acontece.